quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A espiritualidade dos casais em segunda união


A Igreja não quer discriminar nem punir os casais em segunda união, mas sim, oferecer-lhes um caminho espiritual – pastoral adaptado à sua situação. Este caminho espiritual-pastoral é apontado claramente pela “Familiaris Consortio”. Este caminho pode ser chamado e é de fato um caminho espiritual-pastoral, muito rico de frutos espirituais de vida cristã, mesmo que o “status permanente” de segunda união e sem retorno seja uma situação “irregular”.

A Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, 1981, de João Paulo II, no n. 84, exorta os casais divorciados a participar de um caminho de vida cristã que deve consistir em:

“Ouvir a Palavra de Deus, a frequentar o sacrifício da Missa, a perseverar na oração, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência... que se resume em "perseverarem na oração, na penitência e na caridade".

A Exortação Apostólica “Sacramentum caritatis”, 2007, de Bento XVI, no n.29, reafirma o convite de cultivar, quanto possível: “Um estilo cristão de vida, através da participação da Santa Missa, ainda que sem receber a comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adoração Eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos”.

1. A comunhão com a Palavra de Deus

Escutar é algo mais que ouvir. É atender ao que se diz. É ir assimilando e tornando pessoal o que foi dito. É algo ativo, não passivo. É uma abertura a Deus que a eles dirige a Sua Palavra. Por intermédio de Isaías ou de Paulo fala-lhes aqui e agora. Algumas vezes, esta Palavra os consola e os anima. Outras, julga suas atitudes e desautoriza seu estilo de vida, convidando-os para a conversão. Sempre os ilumina, os estimula e os alimenta.

A Palavra que Deus lhes dirige é sobretudo uma Pessoa: o Seu Verbo, a Sua Palavra, Jesus Cristo. Ele não se dá somente no Pão e no Vinho, mas está realmente presente na Palavra que nos é proclamada e que escutamos. Também a nós o Pai continua a dizer: “Este é o meu Filho muito amado: escutai-O”.

A leitura da Sagrada Escritura, acompanhada pela oração, estabelece um colóquio de familiaridade entre Deus e o homem, pois a Ele falamos quando rezamos, a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos” (DV 25). Este colóquio torna-se mais intenso pela “Lectio divina”, ou seja pela leitura meditada da Bíblia, que se prolonga na oração contemplativa. A Lectio é divina, porque se lê a Deus na Sua Palavra e com o Seu Espírito, pode ajudar os casais em segunda união na consecução de uma grande familiaridade não só com a Palavra, mas com o mesmo Deus.

2. A visita e a adoração ao Santíssimo Sacramento:

Jesus, sendo vivo e presente no Sacrário, pode ser visitado e adorado. Ele espera, ouve, conforta, anima, sustenta e cura. Por conseguinte, a visita e a adoração ao Santíssimo é um verdadeiro e íntimo encontro entre o visitante e o Visitado, que é Jesus. A visita e a adoração são uma escolha pessoal do visitante, e, acima de tudo, um ato de amor para com o Visitado. A simples visita ao Santíssimo transforma-se em adoração, que é o ponto mais alto desse encontro.

Os casais em segunda união são chamados e convidados para serem os adoradores do Santíssimo através da prática tradicional da hora santa, que muito os ajudará na espiritualidade, seja do grupo como também do próprio casal. A prática frequente da hora santa não é um opcional, por isso não se pode deixar facilmente de lado, pois ela é necessária para a perseverança.

3. A visita a Maria Santíssima: um conforto para o seu povo.

Se o próprio Jesus, moribundo na cruz, deu Maria como Mãe ao discípulo: “Mulher, eis aí teu filho” e a você discípulo como mãe: “eis aí, tua mãe!” (João 19, 26-27), é bom e recomendável que o casal em segunda união não tenha medo em fazer esta visita de carinho para receber conforto, força e consolação de sua Mãe. Essa visita pode ser feita numa capela dedicada a Virgem Maria ou em casa junto com a família ou na intimidade do seu quarto. Pensando nisso, é bom e confortável que o casal em segunda união não se esqueça de visitar, quantas vezes puder, Maria Santíssima.

Visitar Maria, a Mãe de Jesus, é ir ao seu encontro sem reservas, é entregar-se de coração a um coração que não tem limites para amar. Nossa Senhora em Medjugorie disse aos videntes e a nós seus filhos: “Se soubésseis quanto vos amo choraríeis de alegria”. Maria nos ama muito, como filhos queridos. O que ela mais deseja é ver seus filhos deixarem-se AMAR POR ELA. O seu desejo é o de seu Filho: salvar a todos. A Santíssima Virgem nos espera todos os dias, e ela sabe que quanto mais perto estivermos dela, mais perto ficaremos de Jesus, pois a sua meta é a de nos levar a Jesus.

4. Perseverança na Oração

O casal em segunda união é convidado para perseverar na oração. A oração pode ser pessoal, pode ser oração como casal ou como oração da família com os filhos, ou oração comunitária com os outros casais ou com outros fiéis.

5. Participação da Santa Missa: um encontro de amor.

O casal de segunda união, como todo bom cristão, considerando este amor infinito de Jesus, deve participar da Santa Missa com amor fervoroso, de modo particular no momento da consagração, pois é nesse momento que Jesus é vivo e presente.

Bento XVI, em recente discurso ao clero de Aosta, valoriza a participação dos casais recasados da Santa Missa mesmo sem a comunhão Eucarística. A esse respeito o Papa fez este lindo e confortável comentário:

“Uma Eucaristia sem a comunhão Eucarística não é certamente completa, pois lhe falta algo essencial. Todavia, é também verdade que participar na Eucaristia sem a comunhão Eucarística não é igual a nada, é sempre um estar envolvido no mistério da Cruz e da ressurreição de Cristo. É sempre uma participação no grande Sacramento, na dimensão espiritual, pneumática, e também, eclesial, se não estreitamente sacramental.

E dado que é o Sacramento da Paixão de Cristo, Cristo sofredor abraça de modo particular estas pessoas e comunica-se com elas de outra forma; portanto, elas podem sentir-se abraçadas pelo Senhor crucificado que cai por terra e sofre por elas e com elas.

Por conseguinte, é necessário fazer compreender que mesmo que, infelizmente, falte uma dimensão fundamental, todavia tais pessoas não devem ser excluídas do grande mistério da Eucaristia, do amor de Cristo aqui presente. Isso parece-me importante, como é importante que o pároco e a comunidade paroquial levem tais pessoas a sentir que, se por um lado, devemos respeitar a indissolubilidade do sacramento e, por outro, amamos as pessoas que sofrem também por nós. E devemos também sofrer juntamente com elas, porque dão um testemunho importante, a fim de que saibam que no momento em que se cede por amor, se comete injustiça ao próprio Sacramento, e a indissolubilidade parece cada vez mais menos verdadeira”.

O mesmo Sumo Pontífice também recorda que o sofrimento faz parte da vida humana e no caso dos casais em segunda união é “um sofrimento nobre”. O sofrimento é considerado, de uma certa maneira, como o oitavo sacramento.

Outros meios que auxiliam os casais em segunda união viver o caminho espiritual-pastoral:

A). Formação Pessoal e de Casal

É necessário para eles, como para todos os casais, uma formação pessoal e uma formação como casal, podendo participar da formação e da catequese que a paróquia ou outra realidade propõe para todos.

B). Grupos de Oração

O casal em segunda união tem a possibilidade de participar de grupos de famílias e de grupos de oração para a sua formação, como também para se ajudar mutuamente.

C). Obras de Caridade

O casal em segunda união, como todo cristão, deve empenhar-se nas obras de caridade organizadas pela paróquia ou por outras entidades, como voluntários... lembrando-se de que “a caridade cobre uma multidão dos pecados” (I Pedro 4,8).

D). Praticar a Justiça

O casal em segunda união pode e deve participar das iniciativas em favor da justiça.

E). Diálogo em família

O casal em segunda união como família procure viver o diálogo com os vários membros para que haja paz e colaboração; aceite fazer a vontade de Deus, sobretudo quando ela é difícil ou quando o sofrimento bater à sua porta; abra o seu coração aos parentes e aos vizinhos, aos colegas... especialmente em necessidade.

F). Viver no cotidiano a vida cristã

O casal em segunda união procure viver de maneira cristã a vida cotidiana no trabalho, em casa, no relacionamento com os vizinhos e com a sociedade: este é o caminho que os aproxima da salvação.

G). Um caminho espiritual valorizando a família.

O caminho de vida espiritual, comum a todos os casais, levará certamente o casal em segunda união a valorizar a importância da família também para o bem da sociedade; a valorizar a própria casa como lugar onde se constrói o Reino de Deus e se opera o bem imitando a Família de Nazaré.

Padre Alir Sanagiotto, SCJ

Pe. Alir Sanagiotto Ordenado sacerdote em 19/09/87, é membro da Congregação dos padres do Sagrado Coração de Jesus. Dedica-se de forma preferencial na escuta, no aconselhamento e no trabalho psicoespiritual dos fiéis. blog: http://blog.cancaonova.com/padrealir

25/08/2009 - 09h00

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A PASTORAL DA FAMÍLIA

"Sublinha-se, portanto, uma vez mais, a urgência da intervenção pastoral da Igreja em prol da família. É preciso empregar todas as forças para que a Pastoral Familiar se afirme e desenvolva, dedicando-se a um setor verdadeiramente prioritário, com a certeza de que a evangelização, no futuro, depende em grande parte da Igreja doméstica".

João Paulo II, 28/1/79